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O Palacete Rosa, um dos dois últimos em estilo mourisco na cidade de São Paulo (existe outro na Rua da Consolação, porém menos requintado) é uma história de determinação. De uma família de imigrantes árabes que veio “fazer a América” que realizou seus sonhos e triunfou. E, muitos anos mais tarde, de um garoto do bairro do Ipiranga que sonhava que um dia o palacete seria seu – e que acabou realizando seu sonho, confirmando o ditado “querer é poder”.

Trata-se de uma das fantásticas mansões erguidas pela família Jafet, cuja saga se inicia no final do século XIX, com a então longa travessia marítima através do Atlântico para o Brasil, como fizeram milhões de outros imigrantes no período, e que em poucos anos se tornaram uma das mais ricas e poderosas famílias da cidade e do país. Eram quatro irmãos, entre os quais se destaca Nami Jafet, que ao contrário da grande maioria dos imigrantes que vieram para o Brasil, possuía instrução superior: formado na Universidade Americana de Beirute, foi autor de um livro sobre matemática e teve de sair de sua terra natal, segundo a lenda, por sua defesa apaixonada da Teoria da Evolução de Charles Darwin.

Segundo Pedro Cavalcanti e Luciano de Lion no livro A Juventude do Centro “Benjamin Jafet havia se instalado na 25 de Março em 1890, em uma loja tão pequena que sequer tinha nome. Logo, seus irmãos também partiram da aldeia de Chouir, no Líbano, para se juntarem a ele. A loja recebeu, então, o nome do irmão mais velho Nami & Irmãos, ocupando um prédio no número 149 da 25 de Março, que hoje não existe mais. Ficaram ali apenas três anos e se mudaram para a rua que, na época, era o endereço dos atacadistas mais prósperos, a Florêncio de Abreu”. (1)

De acordo com Edgard Carone, “A princípio, os quatro irmãos comerciam produtos de armarinho. Em 1897, começam a importar tecidos finos da Europa e, cinco anos mais tarde, compram um terreno na rua Florêncio de Abreu. Com a prosperidade de seus negócios, fundam, em 1912, a empresa Nami Jafet e irmãos, sucedendo uma outra na qual Nami Jafet é o sócio mais importante. (2)

Ainda segundo o livro A Juventude do Centro “A rápida ascensão dos Jafet é atribuída por estudiosos às inovações que eles trouxeram para o comércio de São Paulo. Numa época em que a formação para o mundo dos negócios se limitava ao curso de guarda-livros, hoje denominado contador, ministrado pela Escola de Comércio Álvares Penteado, no largo de São Francisco, temas como estratégias de marketing, planejamento de vendas e fidelização do consumidor, evidentemente, não teriam lugar entre as preocupações dos comerciantes”. (3)

O complexo industrial dos Jafet ocupava uma área de nada menos que 45.000 m², contava com 1.000 teares e empregava 1800 operários. Com o tempo, a família diversificou os negócios, que abrangiam o Estaleiro Cruzeiro do Sul, a Companhia de Navegação Internacional, as Usinas de Laminação de Ferro São José, Santa Olímpia e São Francisco, a Mineradora Geral do Brasil Ltda, o Banco Cruzeiro do Sul e a Codig, fabricante de máquinas industriais e agrícolas. Além das atividades empresariais, os Jafet dedicaram-se à filantropia, figurando entre os fundadores do Hospital Sírio-Libanês.

Ao invés de residirem na Avenida Paulista, onde os imigrantes árabes e italianos enriquecidos construíram suas mansões, preferiram se fixar no próprio bairro do Ipiranga, ao lado de suas propriedades industriais. Os Jafet ergueram nada menos do que 22 palacetes na Rua Bom Pastor e adjacências, um para cada filho da família. Desses 22 palacetes, lamentavelmente apenas 6 sobreviveram até os dias de hoje – e o Palacete Rosa, que pertenceu a Munira Jafet é um deles. O conjunto desses palacetes, reunidos numa pequena região do Ipiranga devia formar uma paisagem arquitetônica extraordinária.

A ornamentação da casa é exuberante, ao gosto oriental dos antigos proprietários. Os vários cômodos se distribuem ao redor do enorme saguão central de pé-direito duplo, ornamentado (assim como as demais áreas nobres) de alto a baixo com arabescos e com afrescos de alta qualidade técnica, de autoria do pintor Frioli. Os espaços são iluminados por uma clarabóia e por vitrais da Casa Conrado, da família Sorgenicht, os maiores vitralistas do Brasil no final do século XIX e início do séculoXX, autores dos vitrais do Mercado Municipal, da Estação Júlio Prestes, do Teatro Municipal, entre outros.

As paredes cheias de história do palacete sem dúvida foram testemunhas de um sem-número de recepções e festas suntuosas dos Jafet. Consta que a residência chegou a abrigar refugiados russos da revolução bolchevique, que tinham em comum com os Jafet a religião ortodoxa.

Há alguns anos, o Palacete Rosa foi comprado por Luiz Antonio Gasparetto, que passou a infância no bairro do Ipiranga e quando passava pela Rua Bom Pastor, sonhava que um dia seria dono do palacete. O imóvel foi minuciosamente restaurado nos mínimos detalhes, com supervisão do próprio Gasparetto – um verdadeiro presente para a cidade de São Paulo, que hoje tem um de seus mais notáveis palacetes, tombado pelo Conpresp, de volta ao antigo esplendor.

Nos países civilizados, esses palácios construídos no início do século XX ou antes são os mais valorizados e disputados no mercado imobiliário. Morar neles é sinônimo de bom gosto, e também mostra de apreço e respeito pela história e pela arquitetura da cidade. Por que no Brasil tem de ser diferente? Enquanto hoje em dia novos-ricos destróem magníficas mansões das décadas de 10, 20, 30 e 40 nos Jardins para fazerem casas modernas de gosto duvidoso, a restauração do Palacete Rosa é, sem dúvida, um grande exemplo a ser seguido.

Artigo escrito por Jorge Eduardo Rubies