Por: Rubens Cano de Medeiros
Minha memória me sussurra no ouvido. Que foi em 1957 – eu, então,
moleque. De uma linda Vila Mariana. Ah, lembro bem! Tinha dez anos!
Certa tarde calha de minha mãe me levar ao oculista. “Oftalmo”, quê?
Ninguém falava – acho que nem eles, valorosos e indispensáveis
profissionais… Uma então renomada clínica – de oculistas. Liberdade
quase Bela Vista. Até próximo da Brigadeiro – pela qual desciam bondes
até a Asdrúbal do Nascimento, lembro.
A clínica: rua Condessa de São Joaquim. Que cruza – suponho – com a
rua do marido da condessa, conde de São Joaquim. Não tão longe do
metrô… São Joaquim! Tanto Joaquim, não? Parece o além-mar!
Ah! Dilataram-me as pupilas! À época – nossa! – que transtorno! O
doutor: “volta logo!” – a nitidez. Demorava… mais de vinte e quatro
horas!
Na volta para casa, tomamos o bonde quase em frente ao Professorado. O
bonde? Ele, eu via, mas… O letreiro? Era uma chuva! De rabiscos! Que
durou todo o day-after!
Minhas íris, crateras; claridade adentrando qual holofote! Letras, dos
jornais? Minhoquinhas. Milhões delas.
Olha, me desculpasse o Conde, mas… A Condessa de São Joaquim – ah! –
por causa da dilatação… Me traumatizou, ela!
Algum tempo depois – lembro – numa aula do então quinto ano, “admissão
ao ginásio”, no Marechal Floriano, a professora normalista, me vem com
uma – de novo?! – tal de “dilatação”!
Sim, abram na página tal, ler com atenção: di-la-ta-ção, fenômeno
físico da Natureza, ou provocado pelo homem, patati-patatá, dilatação
– ai! Leiam com atenção – modo de dizer, “arregalem os olhos”!
Arregalar – eu – dilatação? Qual o quê! Ali foi que… FECHEI! E
minhas pupilas suspiraram, de alívio! Outra São Paulo… de rabiscos?
Nunca mais!
Hoje: eu rondando os setenta. Se calha de dilatar – ah! – minhas
pupilas até sorriem! Sabemos, numas quatro horas, clareia – vinte
horas a menos! E enquanto não, dá pra ler quase tudo – até letreiro de
bonde – se eles ainda deslizassem. Na Liberdade. Esquina da Condessa
de São Joaquim.