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“dedicamos este trabalho à nossa orientadora, a quem agracecemos por ter-nos dado a oportunidade de realizar este trabalho tão importante e significativo em nossa formação profissional e intelectual, Augusta Justi Pisani.”

FICHA TÉCNICA:

Edifício: Museu Paulista da Universidade de São Paulo ou Monumento do Ipiranga

Localização: Ipiranga, zona sul de de São Paulo.

Arquitetos responsáveis: Tommaso Gaudenzio Bezzi e Luigi Pucci

Período em que foi projetado e construído: 1883 à 1890.

HISTÓRICO:

A idéia da construção de um monumento que perpetuasse a memória da Independência do Brasil surgiu em São Paulo, logo após o 7 de setembro de 1822.

Em 1824, Lucas Antônio Monteiro, mais tarde Visconde de Congonhas do Campo, na qualidade de Presidente da Província, dirigia-se à população pedindo contribuições voluntárias que seriam aplicadas na construção do Monumento do Ipiranga. Por determinação do Imperador Dom Pedro I, o monumento deveria ser erigido no próprio sítio do Ipiranga, no mesmo local do Grito da Independência.

Perpetuar a memória da Independência foi uma preocupação constante dos Presidentes de Província por todo o decorrer do século XIX. Porém, a falta de recursos decorrente de desequilíbrios políticos e econômicos retardava a realização do projeto. As comissões oficiais nomeadas para esse fim pouco fizeram, e mesmo a Sociedade Zeladora da Glória do Ipiranga, organizada em 1861, teve curta duração. A partir de 1870, foram intensificados os esforços para a concretização da obra. Por ordem do Presidente da Província, Visconde do Bom Retiro, em 1872, o engenheiro Carlos Rath procedeu ao levantamento topográfico do terreno e a pedra fundamental, lançada em 1825, foi retirada e levada ao Palácio do Governo e somente reposta em 1875.

Porém, sérios obstáculos impediam a continuidade do trabalho, pois o esboço apresentado por Bezzi provocara uma longa discussão entre o autor e a Comissão. Enquanto esta desejava um edifício que, além de ser um símbolo, abrigasse também uma escola, o arquiteto insistia na construção de um palácio. Por fim, o Presidente da Província, Francisco de Carvalho Brandão, em 1883 aprovou o projeto de Bezzi. Mesmo assim, somente em março de 1885, o Presidente da Província, José Luís D’Almeida Couto, ordenou que se iniciassem as obras do monumento do Ipiranga, executando-se o projeto de Bezzi, já aprovado também pelo Imperador Dom Pedro II.

Para dirigir a construção do edifício, que seria o marco da Independência do Brasil, foi contratado o arquiteto Luigi Pucci e ao engenheiro Stevaux coube o traçado de uma “estrada de comunicação entre a Capital e a colina do Ipiranga”.

Quanto à origem da mão-de-obra empregada na construção do palácio de Bezzi, foi muito bem observado por Máximo Barro e Roney Bacelli em monografia sobre o Ipiranga:

“A história só registrou estes dois – Bezzi e Pucci -, mas a lógica indica que, além do “Cappomastro”, também da mesma origem seriam os carpinteiros, frentistas, pintores, marceneiros, pedreiros, etc., porque os trabalhadores da nossa claudicante arquitetura imperial, toda baseada na taipa, não estavam preparados para o alto vôo que representava na época o edifício de Bezzi”.

Embora incompletas, pois faltavam as duas alas laterais que davam ao prédio a forma da letra E, as obras foram consideradas concluídas em 1890. O edifício, porém, permaneceu desocupado e sem função, pois o palácio de Bezzi, com galerias e majestosa porte-cochère, inspirado na arquitetura clássica da Renascença, não oferecia condições para o funcionamento de uma escola.

Apesar de todos os percalços, o Monumento do Ipiranga tornou-se uma realidade e cumpriu o seu papel: conservando a concepção de um monumento grandioso e simbólico, abrigou centros de estudos práticos e teóricos das chamadas ciências naturais e matemáticas, dentro de princípios democráticos. Para lá também foram transferidas, em 1894, as coleções do Museu Paulista criado em 1891.

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS:

Bezzi e Pucci souberam executar dentro dos padrões da melhor técnica existente na época, o edifício Monumento à Independência do Brasil, hoje Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

As Fundações:
Foram realizadas em alvenaria de pedra bruta argamassada; fragmentos irregulares de granito não aparelhados são assentados e distribuídos ao longo do leito das valas em fiadas irregulares, devidamente consolidadas transversalmente por perpianhos, cujo comprimento é igual à largura do muro, e dispostos em distância aproximadamente regulares. As fendas existentes entre cada bloco de pedra, quando não preenchida por argamassa, são preenchidas com pedras menores convenientemente partidas e unidas ao conjunto, também com argamassa. Apesar de grande irregularidade das pedras, suas juntas por muitas vezes coincidem, e neste caso devem ser desencontradas. O mesmo cuidado se deve ter quanto ao assentamento das pedras, que devem ter sua melhor face para baixo. Todas as rebarbas e saliências necessitam ser retiradas por instrumentos, devendo os paramentos, ao final, conservar a melhor regularidade possível.

2. Os Alicerces:

“Os alicerces serão de pedra de grandes dimensões colocadas de combinação com pedras das dimensões convenientes para estabelecerem uma perfeita armação, e cimentadas com argamassa composta com a proporção d 1/3 de cal e 2/3 de areia bem lavada …

A cal a empregar-se será de pedra, e apagada no mesmo lugar das obras, devendo demorar no depósito, depois de apagada, pelo menos cinco dias antes de ser empregada.” – Bezzi.

3. As Alvenarias:

Para as demais alvenarias foram empregados tijolos de barro de várias regiões de São Paulo, nas dimensões de 7 x 14 x 29 cm.

Acima dos alicerces, as paredes obtiveram dimensões variadas conforme as necessidades estruturais. Encontramos aí os diversos arcos, também de várias dimensões, que distribuem as cargas do edifício para a sua fundação. Para as alvenarias de tijolos empregou-se argamassa também de cal e areia no traço descrito por Bezzi, de “2/5 por 3/5”, respectivamente.

Utilizaram-se ainda tijolos cerâmicos de 4 e de 8 furos, principalmente nos níveis superiores ( paredes internas das torres ), que colaboram para a diminuição das cargas sobre as estruturas.

Outro sistema utilizado para esse fim foi o tabique ou jiçara – o mesmo sistema construtivo dos forros. Trata-se de um sistema que envolve uma estrutura de madeira formando superfícies retas ou, como no caso dos forros, côncavas (sancas), e, conforme o caso, formas variadas. Nessa estrutura foram fixadas com pregos as varas de coqueiro ou de palmeira que definem a superfície. Por fim, aplica-se argamassa de emboço o reboco com moldes apropriados.

O traço das argamassas utilizadas para os tabiques e forros fio semelhante aos descritos anteriormente. É importante lembrar a grande resistência das argamassas externas (reboco) e também das que compõem os vários elementos decorativos, incluindo os capitéis das várias colunas. Estas argamassas são compostas de cal de origem calcária e areia, com um componente adicional, o chamado cimento romano, que, conforme dados cedidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo se constitui de cal hidráulica com alto teor de silicato, argila calcinada ou mesmo pozolana.

Os tabiques verticais são formados por pranchas de madeira fixadas às estruturas também de madeira. Nas pranchas são fixadas as varetas de coqueiro e nestas as argamassas ( emboço e reboco).

4. O Madeiramento:

Todo o madeiramento do edifício é formado por madeiras de lei: peroba, canela-parda, guatambu, pinho-de-riga, maçaranduba, passariúva, canelinha e outras.

O madeiramento da estrutura, tanto dos pisos quanto das coberturas e partes internas dos tabiques, foi trabalhado com enxó. São surpreendentes as dimensões das peças encontradas, principalmente nos vigamentos estruturais das coberturas e pisos superiores. As peças possuem em média 30 x 25 cm de seção. Todo o conjunto é uma verdadeira obra de arte.

5. As Peças Metálicas:

Quanto às peças metálicas que compõem parte do conjunto estrutural do edifício, encontramos inúmeros tirantes de ferro batido, barrotes de várias dimensões e seções (redondos, quadrados e retangulares). Encontramos, ainda, mãos-francesas de ferro fundido que compõem o sistema estrutural da clarabóia central. Esta peça de grande beleza suporta praticamente todo o peso da estrutura e o distribui nas paredes de alvenaria de tijolos de barro.

6. A Cobertura:

Na cobertura, originalmente, havia telhas de barro do tipo capa e canal. Na clarabóia também, porém estas eram de vidro.

7. O Revestimento:

Quanto às pinturas, tanto internas como externas, também empregou-se a cal. Segundo Bezzi, empregou-se água de cal e cola. Neste caso, a cola, acreditamos, deve ser de origem animal, conforme o uso na época. A cal virgem era extinta e a ela eram adicionados cola de origem animal e corante, conforme desejado. Em alguns casos também se adicionava coalho de leite em substituição à cola.

8. Os Forros:

No edifício do MP foram confeccionados basicamente três tipos de forros:

de madeira – do tipo saia e camisa;
estuque simples – argamassa de cal e areia;
estuque lúcido – argamassa de cal e areia a ferro quente ou frio.
Cabe aqui atentarmos para este último, utilizado principalmente no forro, sobre a escadaria principal do edifício, a ferro quente. Trata-se de uma técnica muito utilizada até poucos anos atrás, por ser barata e de conhecimento praticamente geral, que consistia em aplicar sobre o reboco uma capa fina de argamassa, constituída de nata de cal e pó de mármore com adição de corante desejado, e posteriormente alisada com desempenadeira de aço. Em seguida, alisava-se uma vez mais a superfície com ferro quente, após aplicação de solução de sabão de coco, recebendo uma demão de óleo de linhaça e finalmente cera. A superfície resultava lisa, extremamente resistente e impermeável.

ORNAMENTAÇÃO ARQUITETÔNICA

A importância da ornamentação do palácio projetado por Bezzi para marcar a Independência é perceptível na documentação que registra o andamento das obras; fica patente a preocupação em determinar não só valores como as técnicas construtivas e os materiais empregados.

A despeito das dificuldades presentes no processo de construção (insuficiência de operários italianos e brasileiros, de importação de materiais, de pagamentos, etc.), o monumento é finalmente inaugurado em 1890, apesar de inacabado. Na organização e execução dos trabalhos de ornamentação, esta primeira grande obra de São Paulo desempenhou um importante papel na qualificação de uma mão-de-obra que se tornava a cada dia mais necessária em virtude do surto de crescimento por que passava a cidade nesse período, demandando um número maior de obras arquitetônicas e de infra-estrutura. Assim, do ponto de vista da arquitetura e técnicas construtivas e decorativas, o Monumento também é um marco dessas mudanças, indicando que a arquitetura vernacular de influência portuguesa que havia caracterizado São Paulo até então estava prestes a deixar de ser o único referencial construtivo.

A documentação que registra as etapas da construção monumental revela os modelos decorativos de que se serviu Bezzi e a preocupação em difundi-los. Nas especificação da obra, indica-se o repertório adotado:

“A ordem será do grande modelo indicado no Vignola usado nas academias de bellas artes na Itália, e a ornamentação conseqüentemente em harmonia, ficando destas condições excluídas só a decoração do friso…”

Tal a riqueza de detalhes na configuração da ornamentação a ser empregada.

Uma Imagem Insólita

Um palácio neo-renascentista, implantado a quilômetros do núcleo urbano. Por certo uma imagem insólita nas colinas do Ipiranga, já beirando a exuberante Mata Atlântica que se formava em direção ao litoral. Para aqueles que conheciam a Europa ou para os imigrantes que aqui aportavam, a arquitetura grandiosa não representava exatamente uma novidade. Afinal, como já referido, seu estilo era ensinado e conhecido nas academias de belas-artes e fazia parte, enfim, da história cultural e de suas referências classicizantes, que sentido poderia ter toda essa arquitetura de aparato?

Em que relação com o espaço Bezzi pensava quando selecionou do repertório neoclássico os elementos decorativos empregados, visto não ter copiado exatamente nenhum palácio e sim mibilizado de diversos modelos, a sua ornamentação?

A leitura do conjunto edificado, pelo viés da sua linguagem ornamental, é reveladora da lógica aplicada por Bezzi para traduzir, materialmente, os sentidos celebrativos do marco da Independência.

A disposição simétrica do volume edificado – corpo central destacado e ligado bilateralmente p[elas galerias a outros dois corpos idênticos – é reforçada pelos vãos eqüidistantes formados pelas arcadas, ressaltando as proporções harmoniosas da fachada em que se alternam, assim, cheios e vazios. Por um lado, a simetria do edifício sugere uma ação ordenadora do espaço natural e ainda sem ocupação de seu entorno. Por outro, ao privilegiar os motivos vegetais na ornamentação externa, Bezzi não deixa de estabelecer um interessante diálogo com a natureza da região.

Na fachada de 123 metros de comprimento, entablamento, balaustradas, consolos, óculos e nichos recebem ornatos inspirados em motivos florais e foliares, em variações da ordem coríntia adotada para o frontão e as colunas. Folhas de acanto compõem os frisos, modilhões e pedestais; rosetas pontuam as molduras em suas quatro extremidades ou são dispostas como elementos centrais; nas cornijas, acantos e rosetas alternam-se em suas saliências; a seqüência de palmetas que emoldura a parte superior das torres e galerias, por sua vez, funciona como uma espécie de arremate do edifício, reforçando a continuidade rítmica dada pelas arcadas.

A mesma hierarquia que na fachada explicita o sentido evocativo ao Império repete-se no interior do edifício. A economia de ornamentação no piso térreo reforça a atenção que já se volta naturalmente para a Escadaria, em virtude de sua disposição central. A sobriedade de Saguão é deixada de lado e, num crescendo

que acompanha a subida das escadas, a ornamentação retoma a linguagem da fachada para culminar no Salão Nobre, repleto de elementos decorativos.

No Saguão e Galerias do pavimento térreo, para as colunas e entablamentos, Bezzi optou pela ordem jônica, mais sóbria, dando preferência aos frisos ovalados e dispondo motivos florais apenas de forma isolada, como os florões nos tetos das Galerias. As grades de ferro que guarnecem as portas envidraçadas das varandas e janelas são as únicas peças ornamentadas com profusão.

O Salão Nobre diferencia-se pela ornamentação com maior número de elementos decorativos de inspiração vegetal.

É sobre este suporte de decoração arquitetônica que Taunay, ao assumir a diretoria do Museu Paulista em 1917, define seu projeto iconográfico de celebração da Independência da nação brasileira.

Um Modelo de Ornamentação para São Paulo

Após ter conduzido as obras do Monumento, Luigi Pucci parece ter se firmado como um dos arquitetos da preferência da elite cafeeira recém-instalada na cidade de São Paulo. Nas residências que projeta em fins do século XIX, é possível identificar elementos do repertório decorativo introduzido por Bezzi. A residência do Conselheiro Antônio Prado – localizada na Chácara do Carvalho, na Rua Barão de Limeira – guarda inúmeras semelhanças com o projeto de Bezzi: a adoção da ordem coríntia para a fachada, as arcadas e até mesmo a seqüência de palmetas que arremata a parte superior da edificação. Em menor escala, Pucci introduziu esses mesmos elementos decorativos em casas de aluguel na Rua Dona Veridiana. No Ipiranga também encontramos residências que trazem na sua ornamentação externa elementos presentes no edifício monumental.