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Família Jafet

Chedid Nami Yafith, filho de Nami Chedid Yafith, nasceu em Dhour-el-Chouir em 1836. Sua esposa, Utroch Farah, nasceu em Baskinta sete ou oito anos depois. Ambos eram Tibshranys. Chedid era professor em Mar Elias. Eles tinham 5 filhos e uma filha.

Durante os massacres, Chedid, Utroch e o filho Nami fugiram para Baskinta para morar com a família de Utroch. Passou-se um ano até que se tornou seguro voltar a Dhour-el-Chouir. Quando retornaram, sua casa, entre muitas, havia sido destruída. Mas Mar Elias havia permanecido intacta.

Chedid reconstruiu a casa que havia sido feita por seu pai muitos anos antes.

Nami nasceu em 1860, depois vieram Benjamin (1864), Basilio (Basil – 1866), Miguel (Mikhail – 1869), João (Hanna – 1875) e havia também uma filha, Hala (1872).

Em 1874, a escola missionária inglesa Suk al-Gharb se mudou para Chouir e Nami se matriculou lá. Ficou lá 4 anos e aos 15 começou a dar aulas com seu pai em Mar Elias. Em 1878, Nami mudou-se para Beirut para cursar na Universidade Americana. Nami se interessava pelas ciências e matemática. Quando Nami começou seus estudos em Beirute, Chedid foi chamado para dar aulas em Thalatht Akmar School também em Beirute. Então ele se mudou com a família para lá. Eles foram morar num apartamento de 2 quartos em Furu el-Shabek na parte leste de Beirute. Nos verões, Utroch e as crianças, exceto Nami, voltaram para Dhour-el-Chouir. Naqueles tempos a viagem levava 2 dias. Chedid e Nami permaneciam em Beirute levando uma existência espartana.

Chedid sofreu um enfarte em 1881. Ele morreu no inverno seguinte aos 46 anos. Alguns meses depois, em 19 de julho de 1882, Nami se diplomou com distinção. Nessa época ele adicionou o nome Yafith (Jafet) ao seu.

Por lealdade ao seu pai, ele recusou convites e o substituiu em Thalathat Akmar. Por lá, permaneceu durante 11 anos, onde introduziu várias mudanças. Escreveu vários livros de matemática e muitos artigos para os jornais científicos. Nessa época ele era chamado por seus alunos como Mu’allim Nami Jafet.

A morte de Chedid trouxe muitas responsabilidades para Nami com relação a família Hala e João tinha menos de 10 anos e Basilio e Mikhail ainda não estavam na escola. Benjamin se formou em Thalathat Akmar, pouco após a morte do pai e foi trabalhar para ajudar a família. Utroch queria levar a família de volta para Chouir e Benjamin queria procurar fortuna na América. Mas Nami insistiu que Utroch e Benjamin ficassem em Beirute para manter a família unida e deixar os outros terminarem os estudos em Thatlathat Akmar.

Benjamin era um jovem de espírito independente e de muito planos e só faltava em ir para a América. Ele continuou no Líbano por amor à família, mas ele sabia que o seu destino era o estrangeiro. Nesses anos em Beirute ele trabalhou como secretário numa companhia de navios perto do porto. Essa posição, além de seu conhecimento do francês e inglês, colocou-o em contato com muitos empresários de fora. O que ele queria era ter um negócio independente.

Em 1884, Basilio recebeu seu diploma e Benjamin conseguiu-lhe um emprego na companhia. Mas uma vez ele começou as preparações para partir e mais uma vez Nami pediu-lhe que ele adiasse um pouco mais já que Mikhail tinha ido estudar no estrangeiro.

Mikhail ou Miguel, era o mais inteligente de todos os irmãos e o mais parecido com o seu pai Chedid nas maneiras e no físico. Como o pai tinha uma curiosidade enorme sobre o mundo. Ele era sensível e frágil. Havia um mistério sobre ele, de certa forma ele era um enigma, possuindo grandes dons intelectuais que atraíam as pessoas. Com Nami ele dividia o interesse nas ciências naturais; e com as suas viagens ele passou a falar seis línguas. Chedid percebeu os dons excepcionais de Mikhail desde cedo e o colocou em Mar Elias quando ele tinha apenas 5 anos. Quando a família se mudou para Beirute, Mikhail era sempre o primeiro da classe. Quando ele se formou em 1885, conseguiram-lhe uma bolsa para ele estudar na universidade de Kiev na Rússia. Mikhail morava num pequeno quarto, na Rua Kreshchatik, perto da universidade. Ele acordava cedo para ir as conferências ou estudar na biblioteca.

Em 1892, Mikhail terminou seus estudos com doutoramento em filosofia. Viajou então para a França, para estudar medicina na Universidade em Montpellier.

Fonte: jafetbrasil

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BENJAMIN CHEDID JAFET

Benjamin Jafet tinha 23 anos quando ele decidiu ir fazer fortuna no Novo Mundo. Ele era baixo e magro, como seu pai. Seus traços penetrantes, dava à sua expressão um ar duro como se ele estivesse sempre pensando em algo muito importante. De todos os seus irmãos, ele era o mais enérgico e dificilmente sorria. Entretanto, ele era um cavalheiro, gentil e amoroso, possuindo um caráter de forte moral. Sentia compaixão pelo sofrimento humano e era chegado aos ideais humanitários de igualdade, justiça e oportunidade econômica para todos.

Ele planejou viajar para o Brasil com seu primo, Fadul Tibshrany, de Baskinta. Utroch tentou convencê-lo a não vir para o Brasil, porque ela tinha ouvido falar de picadas de cobra e doenças perigosas como a malária e a febre amarela. Ela o aconselhou a ir para os Estados Unidos, mas Benjamin, estava convencido que o Brasil era a terra onde ele iria realizar a sua grande ambição.

Benjamin e Fadul, partiram de Beirute na primavera de 1887 e rumaram para Marselha. Durante a sua breve parada no porto francês, eles gastaram quase todo o seu dinheiro, comprando artigos que eles achavam que poderiam facilmente vender no Brasil, (relógios, camisas, lenços, pentes, perfumes, etc.). Quando eles chegaram ao Rio, eles conseguiram a principal ferrovia, Central do Brasil, para as províncias de Minas Gerais. Eles começaram a vender seus artigos nas pequenas vilas de minérios e fazendas, perto de Ouro Preto. Os lucros permitiam comprar novos artigos no Rio, para novamente vender no interior.

Durante os dois anos seguintes, Benjamin e Fadul, com a sua carroça e as suas caixas, tornaram-se figuras familiares aos mineiros e pioneiros de Minas Gerais. Eles estabeleceram uma rota definida, satisfazendo as necessidades e gostos dos seus fregueses. Alternadamente, um ficava na província, enquanto o outro corria ao Rio para providenciar mais artigos para preencher os pedidos.

A independência e integridade de Benjamin, combinadas com um bom faro para negócios, permitiam-no conseguir bons preços de quem ele comprava. Ele exigia descontos e créditos, baseado no crescente volume de suas vendas. Posteriormente, tornou-se mais apropriado para eles, se especializarem em tecidos por causa das dificuldades em transportar as suas mercadorias e encontrar facilidade para se fazer um estoque. Foi então que eles passaram a comprar de Juiz de Fora em vez do Rio, reduzindo a distância de viagem em mais da metade.

Em maio de 1888, o Imperador Dom Pedro II, emancipou todos os escravos remanescentes do Brasil. Em novembro de 1889, Dom Pedro, teve de abdicar e foi proclamada a República. Nesse período desordem política, Benjamin se interessou pelo que falavam das oportunidades e riquezas nas montanhas da Serra do Mar no Estado de São Paulo.

Benjamin e Fadul se uniram a vários imigrantes que se dirigiam a São Paulo. Quando chegaram, São Paulo era uma velha cidade, de ruas estreitas e não pavimentada e prédios caindo aos pedaços. De certa forma, eles encontraram mais dificuldades em São Paulo, do que em Minas Gerais. Como até aquela época não havia qualquer espécie de planejamento para a cidade, a excessiva imigração de então tornaram as condições de se morar em São Paulo intoleráveis. Excesso de oferta e pouca procura por causa da miséria reinante, dificultou a Benjamin e Fadul de vender seus artigos texteis, bem como o excesso de pessoas fez com que eles tivessem dificuldades em achar um lugar para morar.

Nesses primeiros meses, esses dois marcantes libaneses viveram de esperanças e sonhos. Eles ficaram magros e fracos de tanto andar sem comer e dormir bem. Dividiam um pequeno quarto na região árabe da cidade, e comiam feijoada. Mais do que fome, eles sentiam falta da comida árabe de Sannine.

Sem família ou amigos, trabalhavam durante muitas horas, sempre esperando vender cada dia mais. Eles chegavam ao principal mercado têxtil, ao nascer do sol, todas as manhãs, para comprar tantos artigos quanto o dinheiro permitia. Benjamin tentava fazer barganhas com os libaneses maronitas, dizendo que eles iriam vender tudo até o meio dia para retornar e comprar mais. Dia após dia, eles levavam sua carroça pelas ruas anunciando a boa qualidade de seus produtos a preços especiais.

Benjamin era ambicioso e pretendia estabelecer um grande negócio sob seu controle. Após um ano, Benjamin e Fadul alugaram um espaço perto da Rua Florencio de Abreu e abriram uma pequena loja de tecidos.

À medida que o negócio prosperava, Benjamin mantinha as virtudes de simplicidade e bondade que caracterizavam a sua família. Ele era admirado e respeitado por seus conhecidos, mas geralmente se mantinha à parte dos outros libaneses em São Paulo. Fora a sua amizade com Fadul, ele gastava a maior parte do tempo e energia trabalhando ou pensando na sua família.

Depois de três anos no Brasil, Benjamin começou a mandar dinheiro para Nami em Beirute. Sempre pensava muito em Nami e seus irmãos e acreditava que a educação e a inteligência de Nami iria ajudá-lo a resolver muitos dos problemas que ele estava enfrentando com os seus negócios. Ele queria progredir, talvez abrir outra loja ou diversificar um pouco as suas vendas, mas a única pessoa que ele confiava era Fadul e por isso não se arriscava a formar uma sociedade com ninguém.

O conselho de Chedid com relação a um esforço em grupo para alcançar um maior objetivo, vinha a ele com muita frequência. Ele percebeu que determinação e trabalho duro, não eram suficientes para se alcançar sucesso em São Paulo, onde havia, de qualquer maneira, muitas oportunidades. Ele queria que Nami se juntasse a ele, mas sabia que Nami não podia deixar a família em Beirute, especialmente enquanto Miguel estivesse na Rússia. Finalmente, Benjamin, decidiu chamar Basilio e João, até que o próprio Nami pudesse vir.

Sentindo então que as coisas iriam mudar, Benjamin e Fadul passaram a trabalhar ainda mais, economizando o que pudessem para alcançar o objetivo maior. Em um ano, haviam conseguido o suficiente, em ouro, para pagar as passagens de Basilio e João para o Brasil, e ainda para mandar dinheiro para ajudar Nami a sustentar a família após a partida dos dois irmãos.

Fonte: jafetbrasil

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NAMI CHEDID JAFET

Nami estava dando uma aula de matemática, quando lhe entregaram um telegrama de Benjamin.O telegrama dizia: “São Paulo, Brasil, via Londres, 23 março 1891. Estou enviando 500 libras para sua conta. Por favor mande Basil e Hanna para o Brasil o mais rápido possível. Eu estou bem. Mande lembranças à mamãe e à família. Benjamin.”

Nami estava surpreso, pois 500 libras, era mais do que ele ganhava durante o ano todo como professor em Thalathat Akmar. Benjamin ultimamente vinha mandando uma média de 50 libras para Nami.

Nami estava curioso para saber por que ele queria que tanto Basilio como João, viessem para o Brasil. Ele concluiu que tudo se relacionava ao fato das oportunidades de se expandir os negócios em São Paulo.

Nami, naquela época, estava planejando o seu casamento. Discutiu muito com Utroch a respeito, que estava contente em saber que ele pretendia se casar com sua prima de quinto grau de Chouir, Afife Nassif Tibshrany. Embora Afife fosse 15 anos mais nova, Nami a conhecia desde que ela era criança por causa de seu relacionamento com a família Nassif pelo lado do pai. Afife estudava numa escola para moças em Chovir e como Nami tinha grande atrações pelos livros. Ela tinha bom conhecimento de literatura francesa e de poesia árabe. Ela era doce, gentil e jovial e como Nami, tinha grande entusiasmo para aprender e para viver.

O casamento foi marcado para julho, depois da formatura de Afife e Nami se preocupou se os planos de Benjamin não iriam ser prejudicado pelos seus planos de casamento.

No dia seguinte, ele foi ver Basilio. O relacionamento dos irmãos Jafet, era tal que eles realmente gostavam um da companhia do outro. Nami disse a Basilio:
– Recebi um telegrama de Benjamin.
– Quando?
– Ontem.
– Ele está bem?
– Muito bem. Ele quer que você vá para o Brasil.

Nami disse essa última frase da maneira mais calma possível.
Basílio:
– “Porque? Você precisa de mim aqui.”
– “Eu sei. Mas são os negócios. Benjamin quer progredir.”
– “Mas eu não sei como poderei partir agora. Você irá se casar, Miguel está em Kiev, João ainda está estudando e ainda não está trabalhando, … etc. etc.”
– “Mas ele mandou dinheiro tanto pra você, quanto para João, para irem ao Brasil.”
– “Quanto”?
– “500 libras!” Disse Nami de maneira bem simples.

Houve então um silêncio de Basílio. Depois de mais conversa os dois concluíram, que era preciso estudar a proposta de Benjamin seriamente. O principal problema, era Basílio deveria ir sozinho ou com João.

Depois de alguns dias, chegaram à conclusão que tanto Basílio, quanto João, deveriam ir para o Brasil e fazer um teste durante dois anos. Se tudo saísse errado, então eles voltariam para o Líbano. Enquanto isso, Nami, ficaria responsável pela família em Beirute. Além disso Miguel iria terminar seus estudos em dois anos e passar a ajudar Nami a sustentar a família.

O problema era como apresentar essa solução para Utroch, da maneira mais positiva possível. Nami estava muito preocupado pois ele sabia que Utroch, não queria que Benjamin ficasse no Brasil permanentemente e ela também não achava interessante que toda família se mudasse para lá. Ela preferia acreditar que Benjamin iria retornar um dia, abrir o seu próprio negócio, e casar-se com alguém da família. Nami também sabia que ela iria se opor a mandar João para o Brasil, antes que ele terminasse a escola.

Por estas razões, Nami decidiu falar primeiro com João. João tinha então 16 anos, era pequeno, mas muito forte. Ele era o mais físico e o menos cerebral de todos os irmãos. Por ser o mais moço, ele tinha sido mimado e não havia exigido dele, tanto quanto dos outros 4 irmãos. Ele não se preocupava muito com o seu futuro, pois sabia que este iria ser determinado pelos seus irmãos.

João era alegre, uma espécie de válvula de escape da família. Ele era espontâneo e adorava fazer brincadeiras com os seus amigos. No folclore da família, o seu físico é legendário. Existe uma fotografia de João, aos 75 anos de idade, carregando em seus braços dois homens. João só tinha um objetivo na vida: viver até os 100 anos.

Embora Nami tivesse quase o dobro da idade de João, eles eram muito íntimos. Nami gostava muito das brincadeiras de João, talvez por que ele, Nami, não fosse assim dessa maneira quando jovem. Nami sentia uma afinidade com pessoas jovens, com suas paixões e esperanças, e talvez isso contribuísse muito para o seu sucesso como mentor.

Quando Nami se encontrou com João, a primeira coisa que lhe perguntou, foi como havia se saído nos exames. João demorou para responder . Finalmente disse:

– “Fui bem em física, tirei 79. Mas não fui lá muito bem em inglês. O exame era longo e não tive tempo de responder todas as questões. Tirei 63.”

Nami sabia que João não gostava da escola, não fazendo muito esforço para tirar boas notas. Nami então disse a João:

– “Basilio está pensando em ir para São Paulo, trabalhar com Benjamin.”
– “Por que ele quer fazer isso? Ele não é feliz aqui no seu trabalho?” perguntou João.
– “Benjamin precisa de Basilio, para poder ampliar o negócio.”
– “Quando ele pretende partir?” perguntou João.
– “Muito em breve.”, disse Nami.

João não parecia perceber a importância da ida de Basilio para o Brasil. Nami não sabia como dizer que João deveria ir junto. Nami então disse:

– “Se Benjamin abrir outra loja em São Paulo, ele irá precisar de duas pessoas para tomar conta:”

João, então perguntou:

– “Você irá com Basilio, Nami ?”
– “Não, eu não posso ir agora. Nós estamos pensando em mandar você.”
– “Por que eu? Eu não quero ir para o Brasil. Eu ainda tenho 2 anos de estudo.”

À noite, Nami e Basilio, discutiram a proposta de Benjamin com toda a família. A separação da família, preocupava demais Utroch e Hala. Preferiam que todos ficassem em Beirute, até o retorno de Benjamin. Nami disse que talvez Benjamin, jamais retornasse a Beirute, se os negócios prosperassem em São Paulo. Utroch disse, com lágrimas, que Chedid jamais teria aprovado a separação da família. Por vários dias se falou a respeito. Utroch, pediu que Nami reconsiderasse a sua decisão. Finalmente, chegaram a um acordo. Basilio, poderia vir para São Paulo, por um período de 2 anos. A meta era a de Basilio, após esses 2 anos, tentar convencer Benjamin a retornar para o Líbano, caso os negócios não estivessem indo bem. Ficaria sob a responsabilidade de Basilio, ver se era viável, toda a família se mudar para o Brasil.

Segundo João, só iria para o Brasil, se Basilio tivesse aberto uma Segunda loja com sucesso. Assim daria tempo de João terminar seus estudos e Miguel retornar da Rússia. Finalmente, Utroch, não queria que Nami adiasse o seu casamento e que Basilio só deveria partir após a cerimônia.

O dia do casamento foi o evento social do ano em Chovir. A família de Utroch e a família Nassif gastaram meses preparando o casamento. Centenas de pessoas foram convidadas e os eventos duraram 3 dias. O dia de casamento era de sol. Havia presentes de Baskinta e amigos de Beirute. Tocaram-se vários hinos. Fora da igreja, ouvia-se o canto das mulheres na vila, indicando que a noiva vinha se aproximando pelas ruas. Desde cedo, dezenas de mulheres, incluindo Utroch e Hala, se reuniram na casa da família Nassif, preparando a noiva e as damas de companhia, para a longa caminhada para a igreja.

Nami havia comprado em Damasco para o vestido de Afife, cetim de 1ª qualidade. As irmãs de Afife, mais a mãe, tinha feito o vestido à mão para se ajustar ao pequeno corpo de Afife. Nami não havia visto o vestido, mas Hala lhe disse que tinha um longo véu e duas crianças seriam necessárias para carregá-lo. Vinte minutos depois, as mulheres que cantavam começaram a se aproximar da igreja, em seguida apareceram as primeiras damas de companhia e em seguida a noiva.

Os três irmãos Jafet, estavam muito bem vestidos em seus ternos escuros. Nami, tinha uma bela figura com uma personalidade forte, que causava boa impressão a todos. Nami era tranquilo e sorria facilmente. Os seus traços mais característicos eram os seus largos dentes brancos e o seu bem arrumado bigode. Nami sabia como usar da melhor maneira os seus atributos e qualidades.

O mais alto dos irmãos era Basílio. Ele se parecia um pouco com Nami. João era o mais baixo dos três, mas o seu físico dava a impressão de que ele era mais alto.

Voltando à cerimônia, o véu de Afife, escondia a sua face escura, largas sombrancelhas e seus lábios finos. Quando Afife chegou à igreja, Nami pegou o seu braço para irem ao altar. Ele notou que ela estava tensa. As suas mãos tremiam. A cerimonia durou quase uma hora. A festa de casamento foi na escola onde Nami e Chedid, costumavam dar aulas alguns anos antes. Todos os convidados não poupavam elogios ao casal. O casal sentou-se, cercado pelo bispo Ghfraeel e o padre de Mar Elias. Houve muita música e dança. João fez um nó em seu guardanapo e junto com outros convidados, dançou o tradicional debke. A dança foi crescendo com as pessoas batendo palmas. João, então passou a dançar em cima de uma mesa. Todos então se sentiram tomados pelo ritmo e esforço de João.

Mas, o momento principal, foi quando Hala amarrou uma faixa vermelha na sua cintura e foi dançar no meio do círculo. Hala tinha movimentos sensuais. Ela foi dançando até o lugar onde Nami e Afife, estavam sentados. Ela tirou então a faixa pegou Afife pela mão e a levou para o círculo da dança.

Alguns momentos depois, Nami e Afife, estavam dançando juntos. Afife tinha gestos graciosos e já estava dando sinais de conseguir dominar a sua timidez. Pela primeira vez, ela levantou seus olhos para ver o rosto de Nami.

Um mês após o casamento, Nami e Basílio foram para Beirute, para providenciar a ida de Basílio para o Brasil. No final de agosto, Basílio já havia partido e Nami estava ocupado, providenciando a sua mudança e da família para Beirute, para o início de mais um período escolar.

Fonte: jafetbrasil

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MIKHAIL CHEDID JAFET

Nami estava na plataforma da estação de trem esperando pela chegada de Mikhail de Aleppo. Já fazia sete anos que Mikhail estava ausente. Conseguiria ele viver numa sociedade árabe novamente?

Finalmente o trem chegou e Nami correu para abraçar Mikhail, que parecia menor do que antes.

Mikhail havia trazido com ele, uma larga caixa de madeira com seus pertences: seus livros em russo, alemão, e árabe seus manuscritos em russo, francês e árabe, pinturas, presentes para a família. Nami então levou Mikhail para Sannine. No caminho, Nami escutou com atenção, as experiências de Mikhail em Kiev. Mikhail também queria saber sobre Utroch e a família. Ele estava muito interessado no nascimento da filha de Nami, Emma.

Emma era a mais velha dos filhos de Nami e Afife, nascendo em 1892. Os outros nasceram no Brasil: Chedid (1897), Nagib (1898), Nabiha (1900), Wadiha (1902), Malaqui (1903), Matilde (1906), Frederico (1909), Carlos (1910), Gladstan (1912), Ricardo (1908) e Roberto (1914) e Hortensia (1916). Dos 13 filhos, cinco se casaram com primo-irmãos.

Nami falou a Mikhail, sobre o sucesso de Benjamin no Brasil e o progresso de Basilio desde que esse deixara o Líbano um ano antes. Tanto Benjamin quanto Fadul, estavam bem nos negócios e estavam ajudando Basílio a abrir uma nova loja num local diferente em São Paulo.

Inicialmente, Mikhail foi contra a partida da família do Líbano. Mas Nami foi muito convincente quando ele começou a enumerar as oportunidades no Brasil. Nami também lhe disse que ele pretendia deixar o Líbano, o mais rápido possível e João também estava se preparando para partir no futuro próximo.

Mikhail só iria poder ficar no Líbano por 2 meses, pois precisava voltar para a Universidade de Mantpellier na França. Ficou então acertado que João iria com Mikhail até Marselha antes de ir para o Brasil.

Quando Mikhail chegou em Chouir, lá estava Utroch, chorando de alegria. Ele então se aproximou recitou um poema e a abraçou ternamente. Depois ele foi ao encontro de Hala que já não era mais aquela esquisita moça de 7 anos antes, mas havia se tornado uma mulher charmosa. À noite Mikhail distribui os presentes que ele havia trazido: para João, uma camisa de cossaco, para Hala um belo vestido, para Utroch várias pinturas religiosas, para Nami vários livros de matemática em inglês e para Afife livros em francês, para Emma um conjunto de bonecas.

A maior parte do tempo, Mikhail gastou visitando parentes e amigos. Em uma das visitas, Afife arrumou um encontro entre Mikhail e Afife Kerima El-Khoury Yacoub Sawaia. Aos 19 anos, quatro menos que Mikhail, ela era inteligente, charmosa e de uma boa família de Chovir.

Mikhail e João, deixaram o Líbano em setembro de 1892. Nami, Afife e Emma foram para o Brasil no ano seguinte. No caminho, eles visitaram Mikhail na França, para tentar convencê-lo a ir para o Brasil.

Mikhail ficou em Montpellier mais 2 anos antes de se ajuntar aos irmãos em São Paulo. Nesse período, Nami já havia organizado os negócios da família, formando a firma Nami Jafet e irmãos.

A decisão de deixar a Universidade de Medicina foi dura para Mikhail. Ele havia gasto quase 10 anos de treinamento universitário, para se tornar um médico. Entretanto, seus irmãos precisavam de seus talentos no Brasil.

Antes de vir para o Brasil, Mikhail foi para o Líbano, visitar sua família e se casar com Afife Sawaya. Eles se casaram em 08 de novembro de 1895 e logo em seguida vieram para o Brasil.

A inteligência de Mikhail, era de muita valia para os irmãos. Como ele era fluente em várias línguas, incluindo o alemão e o russo, Mikhail teve sucesso em estabelecer contatos com comerciantes estrangeiros, prática essa que era difícil tanto para Nami, quanto para Benjamin. Mikhail era capaz de ler e opinar sobre contratos e documentos legais em várias línguas. Mas, a sua maior contribuição, era a aplicação de astutos planos administrativos nas várias atividades comerciais, iniciadas por Nami e Benjamin. A sua disciplina e meticulosa atenção para o detalhe, resultou em grande eficiência administrativa e modernos standards de correspondência e comunicação.

Mas, o sucesso da família Jafet nos primeiros anos era graça ao comum esforço de todos os irmãos, mais o talento específico de cada um. Os talentos de Mikhail nas operações e planificações combinavam com os talentos de Benjamin na administração e liderança. Benjamin era um líder natural, um autêntico capitão de industria no desenvolvimento do Brasil. A personalidade de Nami e sua sofisticação foram úteis para se ganhar confiança com empresários ingleses, europeus e árabes. Os esforços de Nami, para organizar os negócios da família, e dos imigrantes em geral, aumentou o prestígio dos irmãos Jafet. Basílio era responsável em supervisionar as operações técnicas, e João cumpria as responsabilidades determinadas por seus irmãos.

Depois de dois anos no Brasil, Mikhail não se adaptou ao clima e sua saúde começou a piorar. Ele pegou malária e voltou para o Líbano em 1897. Uma filha, Marie Miguel Jafet, nasceu em São Paulo em 1896. Três outros nasceram no Líbano: Gabriel (1898), Raphael (1899) e Linda (1901).

Logo que chegou em Chouir, o cônsul russo lhe ofereceu a oportunidade de trabalhar no consulado russo em Beirute, como diplomata, uma posição que era considerada na época, muito importante, a qual ele aceitou.

Mikhail nunca recuperou sua saúde. Ele teve que abandonar sua posição em Beirute e voltar para Chouir. Ele morreu aos 38 anos, no dia 28 de abril de 1908.

A sua sabedoria, altos princípios e notável inteligência, eram altamente considerados. Nos últimos anos de sua vida no Líbano, ele dividiu seus conhecimentos com os jovens. Como Sócrates, ele andava com os seus discípulos pelas florestas perto de Chouir, questionando tudo, desafiando a sabedoria convencional e encorajando cada um deles na busca do conhecimento e da verdade. Para aqueles que o conheceram, o seu legado foi um conhecimento mais profundo do mundo, no qual eles viveram.

Fonte: jafetbrasil

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A FAMÍLIA ASSAD

Haviam rumores em Baskinta em 1897. Benjamin estava planejando sua primeira visita ao Líbano, depois de 10 anos no Brasil. Ele escreveu a Utroch, dizendo que iria com Fadul pra uma longa visita. Já se sabia que Binjamin, queria que sua mãe e Hala, viessem para o Brasil. Hala casara-se com Demetrio Abs. Tinha uma filha, Adma, nascida em 1896. Outros seis nasceram mais tarde no Brasil: José (1898), Selma (1900), Najla (1901), Chucri (1903), Nicolau (1906) e Josephina (1912).

Benjamin estava também retornando para se casar. Com 33 anos, Benjamin já era um homem de sucesso. Mas, embora ele já tivesse algum dinheiro, a fortuna dos Jafet, só iria realmente começar a crescer, na virada do século. Todo o dinheiro que ele ganhava, era reaplicado no negócio com os irmãos. Durante toda a sua vida, Benjamin jamais se deixou influenciar pelo sucesso e pela fortuna que ele adquiriu. Ele vivia de maneira simples, sem esnobismo, nunca demonstrando preferência por esse ou aquele por causa de suas fortunas.

Em Baskinta, Sadda Haddad, morava perto da casa dos pais de Utroch. Quando os pais de Utroch morreram, Sadda ajudou muito com os funerais além de trazer conforto para Utroch. Utroch passou a ser íntima de Sadda e da sua filha mais velha, Alzira.

Assad, pai de Alzira, não levava a vida muito a sério. Gostava da companhia dos amigos e da família, mas era Sadda que trabalhava duro para poder fornecer as necessidades básicas para as crianças. O que Assad ganhava no seu trabalho na terra, era o mínimo necessário. O problema de Assad tinha sido a sua pobre escolaridade, e não ligava muito para a escolaridade de seus filhos. As filhas não sabiam ler ou escrever e seus filhos receberam apenas os ensinamentos mais elementares, em Muscovia. Sadda, tentava encorajar os filhos, mas sempre se defrontava com a intransigência de Assad.

Alzira Assad Tibshrany, nasceu em 1881. Outros sete nasceram em Baskinta: Michel (1885), Rosa (1887), Ramza (1890), Chucri (1892), Elias (1895), Salime (1898) e Linda (1905).

Ao chegar ao Líbano, Benjamin foi para Chouir. Mais de duas semanas se passaram, até que Utroch arranjasse um encontro entre Benjamin e Alzira. Benjamin não conhecia Alzira. Imediatamente, ele se atraiu por ela. Ela era jovem, charmosa de longos cabelos pretos. Ela era gentil e delicada, mas tinha também determinação e força de vontade. Em poucos meses, eles se casaram. Ao mesmo tempo Fadul se casou com Kristina Tibshrany, prima de Alzira. Ambos os casais se casaram na igreja Mar Mainah em Baskinta. No casamento, penas parentes e amigos íntimos. A única extravagância era o vestido de Alzira, com o tecido vindo do Brasil.

Após o casamento, de Benjamin começou os preparativos para o retorno ao Brasil. Benjamin, Alzira, Utroch, Hala e sua família, vieram juntos. Fadul e Kristina, vieram logo depois.

Na virada do século, São Paulo era um grande centro comercial por causa do café. Nesse período, os negócios dos Jafet progrediram. Os seus depósitos, se tornaram pequenos pelas crescentes vendas. Então, eles compraram terras e construíram um novo centro de operações comerciais em 1903. Mas, o crescimento era tanto, que se torno pequeno novamente. Isso, forçou os Jafet, a tomar uma importante decisão para assegurar o sucesso no futuro. Ou eles aumentariam sua rede de vendas, ou iriam mais fundo na fabricação de tecidos. Nami e Benjamin decidiram embarcar numa nova aventura: a fabricação de tecidos em algodão. Isso daria a ele um maior controle sobre os negócios da família, e aí estava realmente a verdadeira fonte de riqueza, a fabricação de tecidos.

Eles compraram terras perto de São Paulo, no Ipiranga. Em 1907, eles terminaram a construção de uma nova fábrica que se tornou uma das maiores do mundo. Com o passar do tempo, novas facilidades técnicas eram introduzidas. Em poucos anos, o capital inicialmente investido, se tornou 9 vezes maior.

A fábrica acabou aumentando em 7 vezes, possuindo 1.400 teares e 45.000 fusos e 4.000 funcionários. Benjamin e Basílio apenas jantavam em casa, já que passavam o tempo todo na fábrica. Essa rotina, eles mantiveram por toda a vida. Benjamin era responsável pela administração e Basílio pela produção. Nami representava os interesses comerciais da família na comunidade e supervisionava os investimentos. Nami também estava envolvido com as comunidades de imigrantes. Ele foi o primeiro presidente na Sociedade Nacional Sírio-Libanesa e recebeu a Legião de Honra do Governo Francês, por seus serviços como a cabeça da Cruz Vermelha em São Paulo, durante a guerra.

Embora Nami, conseguiu sucesso em várias áreas, ele sempre foi um professor de coração. Continuou escrevendo artigos, dando conferências. Embora um líder nos negócios, ele dizia que “o comércio tem uma certa fascinação, mas a fascinação de se aprender é bem maior”.

Como o negócio cresceu rápido, Benjamin manteu a sua promessa de trazer a família de Alzira para o Brasil. Em 1901, ele mandou dinheiro para Mikhail em Beirute para preparar a viagem de Sadda e Michel. Eles viajaram para Nova York e depois Brasil. Sadda voltou ao Líbano em 1903. Com exceção de Rosa, que havia se casado com Ameen Ibrahim Farah, contra a vontade de Sadda, Benjamin conseguiu trazer toda a família de Alzira para o Brasil. Ramza, Chucri e Salime vieram juntos para São Paulo em 1907. Elias veio em 1909, três anos depois, Assad e Sadda, juntos com Linda, chegaram por volta de 1912. A família de Assad Tibshrany tinha deixado a terra de seus ancestrais para começar uma nova vida na terra de seus descendentes.

Os Jafet, construíram suas casas na Rua Bom Pastor mas hoje, essa área está em decadência, mas logo após a Primeira Guerra brilhavam com as mansões dos Jafet. Eram monumentos que representavam o progresso da família.

Construídas em estilo renascença, cada uma delas possuíam 3 ou mais andares, com interiores de piso de mármores, holl cheio de colunas e escadas em espiral. Cada sala era elegantemente decorada com tapetes orientais, tapeçarias européias e móveis franceses e italianos.

Benjamin e Alzira, tiveram 10 filhos: Genoveva, Monira, Elias, Alberto, Eduardo, Alexios, Leonor, Amélia, Emílio e Valdomiro.

Basílio retornou ao Líbano em 1901, para se casar com Adma Mokdissi. Tiveram duas filhas: Violeta e Angela.

A casa de Benjamin Jafet, foi demolida após a morte de Alzira, a casa de Nami foi derrubada em 1982, a casa de Basílio é agora um templo de Hare Krishma e a de Elias Assad, vendidas para prédios de apartamentos, e a de Chucri Assad para escritórios e de Michel para o Banco B.C.N. Há mais de meio século Eduardo e Angela residem na mansão da Rua Patriotas, esquina com a Rua Bom Pastor.

Fonte:jafetbrasil

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ALEXIOS JAFET

Alexios Jafet, brasileiro, casado, engenheiro químico, nasceu em 11 de setembro de 1909 em São Paulo, e faleceu aos 86 anos, em 28 de maio de 1996. Era filho do pioneiro imigrante libanês Sr. Benjamin Jafet e Dona Alzira Assad Jafet. Foi casado com D. Açma Assad Jafet, com quem teve 4 filhos. Iniciou seus estudos no ginásio Anglo Brasileiro e os concluiu na Universidade Mackenzie, onde se diplomou em Engenharia Química com louvor. Após formado, fez o curso de pós graduação na Universidade de Nova York. Sempre interessado em estar atualizado naquilo que mais dominava, os processos químicos na área têxtil, fez inúmeros cursos nos laboratórios da Bayer, no Rio de Janeiro. Dominava o espanhol, inglês e árabe com fluência. Fundou, construiu e administrou o Lanifício Jafet, indústria que compreendia: fiação de lã, lavanderia de lã bruta, tecelagem de lã, tinturaria e acabamento. Em 1945 montou uma fiação de algodão completa para fios cardados e penteados, aumentando o prédio onde funcionava o lanifício; membro do Conselho Fiscal do Sindicato da Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo; membro da Comissão de obras e Finanças do Hospital Sírio Libanês; membro vitalício do Conselho Fiscal do Clube Atlético Monte Líbano onde foi Vice-presidente e depois Presidente. Foi diretor do Sindicato dos Químicos do Estado de São Paulo e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Em 1965 fez o curso da Escola Superior de Guerra.

Fonte:dicionarioderuas

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O Grito do Ipiranga com precisão de GPS

Pesquisas mais acuradas permitem corrigir a planta da cidade de São Paulo em 1822 e podem determinar com exatidão o local do Pouso do Ipiranga, onde foi proclamada a Independência do Brasil por Pedro I.

Relembrando mais uma vez trecho de artigo do professor Murilo Carvalho, publicado no Caderno Mais da Folha de S. Paulo de 26.12.1999, onde transcreve explicações dadas por Pedro Américo sobre as razões que o levaram a retratar no quadro O Grito do Ipiranga imagens que sabia não serem concordantes com a realidade dos fatos acontecidos naquela tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, quando dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil.

Um pintor de história deve restaurar com a linguagem da arte um acontecimento que não presenciou e que ‘todos desejam contemplar revestido dos esplendores da imortalidade’. Assim escreveu Pedro Américo em texto explicativo sobre o quadro conhecido como ‘O Grito do Ipiranga’, completado em Florença em 1888 por encomenda da comissão de construção do monumento do Ipiranga. A tela tornou-se ícone nacional, representação maior da Independência. O texto descreve o grande cuidado do pintor em reproduzir de maneira exata o acontecimento. Leu, pesquisou, entrevistou testemunhas oculares, visitou o local. No entanto, por razões estéticas, teria sido obrigado a fazer mudanças nos personagens e no cenário a fim de produzir os esplendores de imortalidade.

Foi por isso, para não ofuscar os esplendores de imortalidade, que o Pouso do Ipiranga foi demolido e esquecido pela comissão de construção do monumento. Pois seria difícil construir esplendores envolvendo esse modesto lugar e as circunstâncias que levaram dom Pedro a estar ali, quando recebeu a correspondência vinda da corte, para em seguida proclamar a Independência.

No texto Proclamação da Independência, publicado em Constelar n° 46, citei o Pouso do Ipiranga, sem chegar à sua localização correta. Agora, considerando planta do Arquivo da Cúria Metropolitana, do conjunto Mappas das Parochias da Archidiocese de S. Paulo, de 1911, folha 43, volto a falar do Pouso do Ipiranga e do lugar onde estava, nas proximidades dos trajetos do córrego e do caminho para Santos em 1822.

Essa planta da Cúria, que data da época da canalização do rio Tamanduateí e do início da construção do prédio do Museu [*], mostra a posição do riacho (Rio Ypiranga) antes de sua canalização e mostra também o traçado das ruas que existiam no entorno do lugar onde foi proclamada a Independência. Agora, depois de canalizado, o riacho Ipiranga tem curso paralelo à frente do Monumento, enquanto na planta da Cúria ele cruza o eixo do Parque da Independência mais ao Sul, entre as direções das atuais ruas Leais Paulistanos e dos Sorocabanos – mais perto da Casa do Grito, que ainda existe no local.

A planta da Cúria mostra o Parque da Independência em fase de formação, ou construção. Nela consta o contorno do prédio do Museu, de acordo com o projeto inicial (não na forma atual). Nessa planta, no lugar onde hoje está o Monumento da Independência, nada consta de especial, além do riacho do Ipiranga que passava por essa área.

Pelo traçado das ruas, a planta da Cúria permite deduzir o trajeto do caminho para Santos na região do riacho. Entre essas ruas, se destacam, por fugir do padrão quadrangular, o início da atual rua Bom Pastor e toda a rua hoje chamada de Benjamin Jafet. Essa não observância do padrão retangular indica que o início da Bom Pastor e a Benjamin Jafet já existiam como caminhos na época em que a planta da Cúria foi construída. Ou seja, o caminho para Santos, se afastando das áreas mais baixas do terreno, passava pelo atual trajeto da rua Benjamin Jafet e seu prolongamento, até o riacho do Ipiranga, praticamente em linha reta. Parte desse prolongamento, atualmente, inclui pequeno trecho da rua Bom Pastor e a ligação do início da rua Leais Paulistanos com o fim da Av. Dom Pedro I. No sentido oposto, o caminho para Santos alcançava a atual rua Silva Bueno – onde há um marco que indica que por essa rua passava esse caminho.

Dessa forma, é provável que o Pouso do Ipiranga estivesse próximo, ou mesmo no lugar onde foi construído o Monumento, e não onde foi sugerido no estudo apresentado em Constelar n° 46 – que teve por base planta existente na Biblioteca do Museu do Ipiranga. Essa planta do Museu mostra um cercado, quase quadrado, com construções, que poderiam indicar o lugar do antigo Pouso Ipiranga e venda do Alferes, mas tendo em vista o curso antigo do riacho (da planta da Cúria) e o aceitável trajeto do caminho para Santos, chega-se à conclusão que esse cercado não representa o Pouso do Ipiranga.

Planta atual, de programa de GPS, onde foram destacadas na cor verde as ruas Benjamin Jafet, seguida de pequeno trecho da rua Bom Pastor, mais a ligação do início da rua Leais Paulistanos com o fim da Av. Dom Pedro I – por onde passava o antigo caminho para Santos. O trecho na cor cinza representa o curso do riacho Ipiranga, antes da canalização, conforme está na planta da Cúria. O pequeno quadrado negro está no centro do Monumento – as coordenadas geográficas anotadas são as desse ponto.

Concluindo, a posição do riacho antes de ser canalizado, mais o provável caminho para Santos e principalmente o que disse Pedro Américo, de ter sido obrigado a fazer mudanças nos personagens e no cenário da Independência para que fossem gerados os esplendores da imortalidade, se conclui que o Pouso Ipiranga estava no lugar onde hoje está o Monumento da Independência – lugar que possui as seguintes coordenadas geográficas: S 23°34’44,2″ e W 046°36’37,2″, obtidas a partir de rede de satélites geodésicos GPS (Global Position System, ou Sistema de Posicionamento Global).

Texto:Raul V. Martinez
Fonte: constelar

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HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS

A história do Hospital Sírio-Libanês teve início em 1921, quando um grupo de senhoras da comunidade sírio-libanesa de uniu para angariar fundos para a construção de um grande hospital. Em 1930 começaram as obras e dez anos depois, quando a construção já estava quase concluída, foi desapropriada por um interventor do Estado para abrigar uma escola de cadetes. Em 1959, o hospital foi finalmente devolvido à sociedade, mas em estado precário. No ano seguinte, começaram as reformas e em 1965 o hospital finalmente começou a funcionar.

É administrado e mantido por um grupo de senhoras da Sociedade Beneficente das Senhoras do Hospital Sírio Libanês e reflete o fruto do esforço coletivo de sírios e libaneses, oferecendo ao Brasil um centro de alto nível médico, tanto em pesquisa quanto em atendimento clínico e cirúrgico, sendo uma referência de qualidade. A direção do Hospital Sírio Libanês, arca com a responsabilidade de quatro grandes corpos de edifícios, com enfermagem e atendimento do mais alto padrão de qualidade.

Atende um número significativo de pessoas carentes de recursos, bem como ambulatório infantil. O Hospital Sírio Libanês é uma contribuição que retrata a grandeza do esforço comum e da compreensão mútua das duas coletividades.

Fundadoras do Hospital Sírio Libanês:

Adélia Ibrahim Diab, Adélia Taufi Maluf, Adma Basílio Jafet, Afife Nami Jafet, Afisa Melhem Azar, Alice Fares Buchain, Alice Taufi Maluf, Alzira Benjamin Jafet, Atur Nicolau Aun, Corgie Assad Abdalla, Fadua Hassib Mattar, Fariza Merhej Moherdaui, Helena Simão Racy, Latife Chufi Alasmar, Marie Gabriel Calfat, Marta Stefano, Mary Youssef Nahas, Matilde Salomão Yazbek, Nahime Caram Bussab, Nassiba Nagib Salem, Nazle Elias Morad, Nazira Salem Carone, Nazma Wadih Yazigi, Salma Salim Buchain, Salua Michel Calfat, Taufica Said Gebara, Victoria Jafet.

Fonte: milpovos

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Casarão da Atriz Maria José de Carvalho

Continua indefinido o futuro do antigo casarão da Rua Silva Bueno, 1.533. Tanto a casa como objetos valiosos como pinturas à óleo de Darcy Penteado, Celeste Bentley e DiCavalcanti que foram doados por Maria José à Secretaria da Cultura.

Desde a morte da atriz, o prédio está fechado. Em quando grande parte do acervo é rigorosamente catalogada e recuperada , o sobrado enfrenta sérios problemas como infiltrações, cupins e traças. Além disso, a fachada está parcialmente pichada.
Segundo a museóloga, Beatriz Augusta Correia da Cruz, a casa está bastante danificada. “Outro problema são os vândalos que picham a fachada do prédio, que já foi pintada mais de duas vezes. Antes do Estado tomar conhecimento sobre a doação, o local havia sido invadido por pessoas estranhas. Para evitar novas invasões contratamos um vigia até o início das obras de restauro”, salienta.

Desde 1.997, o acervo com mais de 3.000 livros, obras de artes, traduções e documentos pessoais está sendo catalogado. “Obras mais importantes como telas de DiCavalcanti e livros teatrais foram removidos e encaminhados ao Arquivo do Estado. Esperamos concluir o processo de documentação do inventário e trabalho