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21, setembro de 2015

Pequena matéria de jornal de bairro, do Ipiranga. “Ciclovia disputa
espaço com pedestre” (melhor, tira-lhe esse espaço). Uma foto bem
ilustra a esquisitice, a tal ciclovia. Uma calçada, de ponta a ponta,
tomada literalmente (comprimento e largura) por um extenso vermelhão –
segundo a matéria, fruto de um “projeto” (que projeto!) que originou a
ciclovia.

Quer dizer, diz-nos a foto: pintar TODA uma calçada; espalhar aquele
horroroso vermelhão; sequer sinalizar, nem de solo, separando mãos de
direção para quem ali (indevidamente) pedala; tirar o espaço, que lhe
é privativo, a calçada, do pedestre – “isso” é projeto de ciclovia?
Ora: andar de bicicleta na calçada, não é proibido, diz o Código?
Incoerência.

Tal “solução”: inspirou-se de quê? Da Holanda? Alemanha, Dinamarca?
Tóquio, Nova York? Ao que parece – basta a foto – de “Deu a Louca no
Mundo” (paulistano). Eu nunca iria pedalar num esdrúxulo desses, que
bota pedestres sob risco.

Prossiga, jornalzinho ipiranguista. “Trechos da ciclovia implantada na
Francisco Mesquita não estão agradando os moradores e comerciantes”,
diz a matéria. Por certo, terá agradado ao Poder Público, que a
pintou. Prossegue: “Uma parte da faixa exclusiva foi pintada sobre a
calçada, dificultando o passeio entre pedestres” – consertando o que
está “certo”: dificultando pedestres circularem NO passeio, vulgo
calçada.

Nem é preciso ler na íntegra. O arremate é este – vê se pode! “Segundo
a CET – diz o jornal – o projeto levou em conta a quantidade de
pedestres (sic) em circulação na região”! Raciocinemos, que não tem
contraindicação.

Primeiro, ciclovias como essa – que afrontam a proibição (inútil) de
pedalar na calçada – parecem ter sido pintadas a esmo. Que ganho traz
para ciclista, algo desse tipo? Que fluidez de “bikes” isso garante?
Tira a bicicleta da rua, mas expõe pedestres a risco.

“Quantidade de pedestres”?! Quem, como e onde “avaliar”, se é que essa
avaliação faz algum sentido? Calçada é de pedestre, passem por ela
poucos caminhantes ou muitos. Que visão maluca! Ainda que a própria
lei de trânsito admita (equivocadamente – mudemos a lei), e mesmo que
“devidamente sinalizada”, calçada NÃO PODE SER de bicicletas: mesmo
que na Holanda ou Nova York. A belicosidade de que se reveste nosso
trânsito nem permite essa “convivência” arriscadíssima, pedestres e
ciclistas simultâneos, mesmo chão.

Pelo visto – só de olhar a foto, nem é preciso ler a reportagem – essa
ciclovia da Francisco Mesquita já nos dá ideia de que pedestre
paulistano – no que tange à integridade física ante desordenadas
bicicletas – pode não estar em “boas mãos” – já que não se fiscalizam
bikes. E não está mesmo!

Indiscutível, estamos é – quanto a almejar alguma civilidade, nas
calçadas – nas mãos dos que conduzem (são conduzidas) guidões muito
afoitos… E impunemente, aliás.

Enfim… Nessa “linha de raciocínio”… ou seja, onde pouco pedestre
“pode bicicleta” (putz!), é de inquirir: por que bicicletas e
triciclos pedaláveis nos calçadões do Centro onde – milhares de
pedestres! – nem espaço há para pedalar? Bicicletas nos calçadões? É
algum “projeto”, com base no “Inferno de Dante”, certamente…

Por: Rubens Cano de Medeiros