:: Visitando Cascatinha & Inhana :
Ipiranga, 1958. Aos doze anos de idade eu trabalhava numa banca de cereais, banca essa instalada no Box 33 do Mercado Municipal do Ipiranga, Rua Silva Bueno, Sacomã. Num certo dia fui levar uma encomenda na Rua Lord Cochrane, Sacomã/Ipiranga. Como estava chovendo, portava eu um guarda chuva que pertencia ao dono da banca de cereais. Saí do mercado com a encomenda e fui andando pela Rua Silva por Bueno alguns quarteirões. Logo estava na referida rua, entrando nesta travessa fui procurando o número da residência, olhei o número anotado no papel outra vez até que encontrei a residência do então cliente.
Campainha não tinha, bati palmas e logo avistei o morador que estava lá no fundo do quintal tratando de passarinhos. Ele me conhecia, afinal ele também tinha uma banca de frutas no mesmo mercado, e foi dizendo “vai entrando sem medo, pois aqui não tem cachorro”… Após cumprimentá-lo fui lhe entregando os devidos pacotes da encomenda, ele em seguida conferiu item por item, tudo certo, de acordo com o seu pedido.
Estando tudo certo, iniciamos uma conversa qualquer, e daí me disse que estava preocupado com o seu vizinho que morava ao lado, pois o mesmo estava mal de saúde. Nesta conversa ele me disse que ia guardar a encomenda e já ia visitar o seu amigo. Perguntei-lhe qual era o nome do senhor, era Cascatinha. Perguntei de novo… Cascatinha da Inhana? Sim respondeu, é ele mesmo. Eu perguntei a ele se podia ir junto. Ele, tudo bem, vamos lá.
No caminho fui dizendo ao senhor que eu já os tinha visto por diversas vezes, isto quando eles se apresentaram no Circo Pavilhão Françoise (pronuncia Françoá), circo esse que pertencia à família da dupla Tonico & Tonico, que tinha se instalado na Rua Vemag com Rua Lício de Miranda, Vila Carioca, também os vi andando de mãos dadas pelas ruas do Sacomã, mas vê-los de pertinho e conversar com eles, isso nunca.
Entramos pelo portão adentro e fomos caminhando até os fundos do quintal, e lá estava a senhora “Inhana”, que numa gentileza foi dizendo “podem entrar, eu acabei de passar um café no bule, está quentinho, e tem mais, esse café fui eu que torrei no velho moedor”, e foi mostrando o tal moedor.
Tomei uma xícara de café, entre um gole e outro fomos conversando. Em seguida fui até o quarto indicado por ela onde estava “Cascatinha”, que estava deitado na cama, mas com boa aparência. Ele não me conhecia, apenas fui lá cumprimentá-lo, pois não queria incomodá-lo, ele apenas falou que logo voltaria a exercer suas atividades artísticas, tinha algumas apresentações a cumprir, e o problema não era grave. Fui me despedindo, desejando que se recuperasse. Ele agradeceu pela visita.
Indo para a cozinha, novamente iniciei a conversa com a Inhana, e esqueci de que estava em horário de serviço, lembrei-me disso, e fui me despedindo da Inhana, peguei um guarda chuva e fui de volta para o mercado, preocupado pela demora, sabendo que ia levar uma bronca do patrão. E assim foi. Acabando de chegar ao mercado, o patrão disse-me cobras e lagartos, e o pior de tudo é que eu tinha trocado o guarda chuva novo por um velho. Toca-me voltar à casa da Inhana buscar o guarda chuva certo. Enfim, mesmo com toda bronca achei que valeu a pena, pois conheci pessoalmente a dupla “Cascatinha & Inhana”.