Por Rubens Cano de Medeiros
21 de janeiro de 2015
Embora jornais e tevês não mostrem, as bicicletas paulistanas vivem
duas realidades. Realidades que são antípodas, “opostas”. Uma delas é
o cenário de ciclovias e ciclofaixas de lazer – é o único momento em
que a douta autoridade municipal de trânsito toma conhecimento dessa
mobilidade, as bicicletas. A outra realidade – da qual ninguém fala –
é a das bicicletas rolando fora de ciclovias – que é, esta segunda, um
trânsito clandestino, pois sem fiscalização e fluindo na contramão das
regras do Código. Clandestinidade sobre duas rodas.
Pois o trânsito de bicicletas paulistanas é como moeda: tem duas
faces. Uma face, esse trânsito, é o que é – para a mídia, para a CET,
para o prefeito e secretário, para “especialistas” de trânsito: pensar
em bicicletas, exercitar o neologismo sobre duas rodas,
“cicloatividade”, é tão somente referir ciclovias. Jornais e revistas,
aliás, dão total apoio à causa, pois só mostram… ciclovias. Que
mostrem o outro lado! É hora!
E como se pintar faixas vermelhas no asfalto, por si só, isso
resolvesse a delicada questão, bicicletas interagindo com carros e
pedestres – como se várias dessas ciclovias não fossem “precárias”,
mal acabadas, estreitas… De fato, dão segurança pedalar nelas?
A outra face da moeda é o de como via de regra os ciclistas pedalam
nas ruas, uma vez estando fora das ciclovias. Fazem-no sob fiel
obediência ao oportunismo e à individualidade: “lei de Gerson”. Com
desobediência fiel à conduta de civilidade: imprudência e total
desprezo ao pedestre. Ciclistas são contumazes transgressores das
normas de trânsito.
Certo é que querer fiscalizar (imagine-se então autuar) bicicletas –
como prevê o Código – deve mesmo ser incumbência difícil, complexa.
Para começar, bicicletas nem têm placas! (no passado remoto, tiveram)
Só que bicicleta é “veículo”, garante o Código. Então há que
disciplinar. E o que ciclista mais faz é infringir. Total falta de
educação: dever-se-ia exigir fiscalização. Autuar, por que não?
Por exemplo: é inaceitável que ciclista pedale sobre calçada (claro,
exceto as crianças). Pois até bicicletas de entrega o fazem! Maior que
fosse a “cautela” de quem pedala, bicicleta no meio de pedestre é
receita de acidente. Fica por conta do acaso. “Compartilhar”?
Papo-furado!
Igualmente insensato, absurdo, é bicicleta na contramão, junto do
meio-fio – ou avançar o semáforo, invadir faixa de travessia: pega o
pedestre “de surpresa”, inesperadamente. Daí, pedestre bobear, já era…
Atitudes burras, do ciclista, não? Cadê fiscalização?
Alguém de nós, paulistanos, já terá visto – uma vezinha só – um agente
de trânsito ao menos advertir, censurar, repreender ciclista acintoso,
imprudente? Claro… que nunca! E a autoridade de trânsito, nas ruas,
ela empreende uma única medida que seja, alguma ação “educativa”,
preventiva (direção defensiva) para o trânsito de ciclistas? A mídia,
participa, assim, também? Já falar de ciclistas… Ciclistas bem
comportadinhos, dos domingos, ciclofaixas de lazer, nada têm a ver com
bicicletas nas ruas. Duas realidades. Moeda.
Essa “solução” de bicicletas e pedestres “compartilharem” calçadas,
não obstante previsto no Código, é perigosa: exceto se a segregação
for para valer, qualquer dos dois poderá até invadir o espaço do
outro. Outra burrice é permitir bicicletas na contramão – mesmo que a
lei abra as portas. Não é porque é lei que deva ser a melhor solução:
por quê?
Vale para todos: bicicletas “comuns”, para as “elétricas”, para
assemelhados – triciclos de carga, grandões. Todos pedalam nas
calçadas etc. Isto quer também dizer, paulistano, que quando você
estiver caminhando… Natural e habitualmente, cuidado, então!
Ingenuamente achando que “calçada é do pedestre”, não é! Às tuas
costas, ou mesmo à frente, ou numa curva, na esquina… Ei-la, na
calçada! Uma imbecil bicicleta! Imbecil, mesmo, não é ela. Cadê
fiscalização?
Não sou contra ciclovias. Incrível, até sou ciclista! – que nunca
andou na calçada. Mas, concidadão, convenhamos. Caminhar na calçada;
atravessar uma rua, confiar no semáforo; cruzar faixa de pedestres…
Tem que jogar a moeda para cima, que nem juiz de futebol: cara ou
coroa? Isto é, naquelas situações supracitadas, a “chance” de topar
com uma bike – que te dê uma porretada – é mera questão, de sorte ou
de azar! Aliás, quem joga a moeda para cima, só pode ser… a CET: cadê
fiscalização? Alguém de nós se importa? Ah, quer saber? O que importa,
mesmo, é… deve ser… ci-clo-via!