O conceito de Hino Nacional é relativamente recente – coisa de 300 anos para cá, no máximo. O mais antigo é o inglês God Save the King (ou Queen), que curiosamente acabou sendo adotado, num momento ou noutro, também por outros países, como Suécia, Dinamarca e até Rússia. O hino inglês é bastante diferente do brasileiro no que tange o contorno melódico: é simples e lento, quase religioso.
Os franceses optaram por outro estilo para seu hino: A Marselhesa, uma marcha militar, composta numa única noite por Rouget de Lisle. O hino francês é de longe o mais citado em obras de outros compositores: Abertura 1812, de Tchaikowsky, Carnaval de Viena, de Schumann, além de peças de Wagner, Liszt, Debussy e outros.
Já a maioria dos países latino-americanos prefere um terceiro estilo, inspirado na ópera italiana. São melodias rebuscadas, em geral precedidas de uma longa introdução orquestral. É o nosso caso: a introdução do hino brasileiro, aliás, com aquela profusão de trinados constitui um belo desafio para qualquer violinista. Mas há casos ainda mais bizarros: o hino de El Salvador é comparável na textura ao segundo ato da Aida de Verdi.
Caso interessante é o da Malásia, que não optou nem por melodia religiosa, nem por marcha militar, nem ópera italiana. Seu hino nacional é uma melodia folclórica do país.
Nosso Hino Nacional é um retrato fiel do Brasil: bonito, mas inacessível para 90% da população. É patético testemunhar nossos jogadores em copas do mundo debatendo-se contra as dezenas de apogiaturas que tornam nosso hino praticamente impossível de cantar e o transformam em mais uma poderosa ferramenta de exclusão.
À parte as dificuldades, nosso hino é um dos mais bonitos que se conhece.
Fonte: Acervo pessoal
Redação: Elza de Moraes Fernandes Costa – musicista
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