Nos tempos em que morávamos na Rua Albino de Moraes – Vila Carioca –Ipiranga – SP, o meu avô pegava seu banquinho de madeira e ficava sentado na frente da residência, eu sentava no chão próximo dele e puxava conversa.
Ele vivia contando histórias dos tempos em que viveu no interior, falava do “saci” etc., mas nesse momento passava um carroção coletando o lixo do bairro. Exclamou ele! Esse carroção de lixo é meio parecido com o meu velho carro de bois.
Levantou-se do banquinho e foi ver de perto o veículo, até então desconhecido, pois lá no interior não tinha visto um “iguarzinho”. Comentou que o carroção era fabricado com chapas de aço, tinha pneus de borracha e outros recursos mais.
É meu neto “Tangerynus”, se eu tivesse um desse garanto que dava pra ganhar dinheiro pro meu sustento e jamais viria pra São Paulo. Comentei dizendo ao meu avô “Zeca Bem”, acontece que esse carroção é bem moderno, e em minha opinião acho que nem existe mais os tais carro de bois, pelos menos aqui em São Paulo. Tem razão aqui na capital eu também nunca vi um carro de bois. Tem sim o carroção que coleta lixo, e a cocheira fica na Estradas das Lágrimas, bem próximo do bairro São João Clímaco.
Quando eu vivia no interior o que mais gostava de fazer era tanger um carro de boi, saía do sítio de manhã carregado de lenha e só retornava a noitinha, o meu ponto de parada era no armazém do “Loureiro”, na Avenida 24 de Outubro, bem próximo da estação ferroviária da Cia. Paulista, afinal lá tinha de tudo, comprava meu pedaço de fumo, paia pra fazer uns cigarrinhos, sem esquecer que eu bebia uma boa dose de “pinga pura”.
Hei vô falando de bois, qual era a raça apropriada para tal finalidade? Meu neto eu não tenho certeza mais acho que é a raça “Caracu”, que serve também para corte e como tração animal.
O Sr. lembra dos nomes dos bois? Faz muito tempo, só lembro-me de três, que era o boi “Mimoso” o boi “Relógio”, e o “Pedro II” os outros já esqueci. Porque Pedro II? Porque D. Pedro II viajou de trem para o interior e passou com sua comitiva em Porto Ferreira e Descalvado, daí o meu pai Manoel Pereira Tangerino, que faleceu em 1886, resolveu dar esse nome a um dos bois. Lá no Museu Histórico e Pedagógico Prof. Flávio da Silva Oliveira, tem os talheres de prata usados por eles na época.
Quer dizer então que o Imperador D. Pedro II passou por lá. Sim foi mais ou menos pelos idos de 1880. Caramba! Faz tempo. E assim encerrou a conversa…
Por Tangerynus